sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ENTREVISTA COM PSICÓLOGO JURÍDICO

Nome: Sidney Shine
Profissão: Psicólogo Judiciário da Vara da Família do Centro de São Paulo, é Psicanalista, Especialista em Psicologia Clínica e Jurídica pelo CRP.
Autor dos livros “Psicopatia” e “A Espada de Salomão: A Psicologia e a Disputa de Guarda de Filhos” pela Casa do Psicólogo.


Há quanto tempo você trabalha em Psicologia Jurídica?

Há 22 anos. Atualmente estou lotado no Setor de Psicologia das Varas da Família no Fórum João Mendes Jr. (Foro Central).

Em que consiste seu trabalho?

Trabalhamos sob determinação judicial, ou seja, enquanto peritos nos casos encaminhados. Está sendo iniciado um trabalho de encaminhamento de casos de mediação também.

Como é a relação do psicólogo com profissionais de outras áreas, especificamente do Direito? Se possível, nos dê um exemplo de sua atuação nessa área.

Há casos que não admitem mediação (atuação como terceiro neutro na facilitação da comunicação e negociação de necessidades e desejos) como, por exemplo, quando o pai de uma criança de 6 anos acusa o atual companheiro da mãe da criança (sua ex-mulher) de “molestar a criança”. A dúvida do Juiz quanto ao fato alegado o faz utilizar-se da perícia como forma de determinar melhor sobre o fato (psicológico). O que é molestar? Há evidências? Como se encontra a criança? Sua mãe está ciente? Ou será uma manipulação do pai? Há engano ou má-fé etc. Para atender o caso (e ao Juiz) é preciso atender os membros da família. Daí entram as diversas formas de manejar os instrumentos psicológicos a partir da teoria psicanalítica e da compreensão do lugar institucional que estou inserido.

A sua formação como psicanalista proporciona uma outra visão dos conflitos humanos. Isso ajuda na sua atuação junto à Vara de Família?

A formação psicanalítica permite uma visão dos conflitos humanos, aliás, admite o conflito como constitutivo do humano. A minha reflexão vai no sentido de como tal conflito intrapsíquico e ontológico se manifesta enquanto um conflito interpessoal e transformado em litígio processual (vide “Conflito familiar transformado em litígio” publicado no livro Família: conflitos, reflexões e intervenções da Casa do Psicólogo).
A teoria psicanalítica ajuda no meu trabalho enquanto uma ferramenta no contato com as pessoas e na troca de experiências para a sistematização do conhecimento. Neste sentido, valho-me da possibilidade de interlocução com outros profissionais que utilizam o mesmo referencial para seu mister. A compreensão da dinâmica do casal me aproximou da Tavistock Marital Studies Institute que se especializou no atendimento de casal. O entendimento da dinâmica familiar é bastante privilegiado no trabalho da Tavistock como um todo. Tive a oportunidade de fazer supervisão e refletir sobre os casos com a Magdalena Ramos que atua com famílias. Dialogo com colegas psicólogos judiciários de Minas, do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro ligados a UERJ e com os colegas com que trabalho aqui em São Paulo principalmente, dentro e fora do Tribunal.
Mas não dá para se restringir somente ao que os psicanalistas produzem na área. Há muita gente com outras orientações que escrevem coisas interessantes vindo da teoria sistêmica, os americanos que produzem bastante na área, na Espanha também existem publicações, enfim é preciso buscar atualizações.
No meu Doutorado em curso encontro a possibilidade de uma orientação a partir do viés psicanalítico com minha orientadora, Audrey Setton Lopes de Souza, da Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano da USP.

Quais seriam as suas recomendações para os psicólogos que pretendem trabalhar nessa área?

Eu recomendo que leiam trabalhos na área e busquem contato na forma de trabalhos acadêmicos, palestras, estágios para despertar consciência do que é valorizado nesta área.

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